Um dia destes, eu e minha esposa levamos nossos netos para brincar em um parque perto de casa. Em um dado momento meu neto mais novo, com um ano e dois meses, cambaleando, passou sobre um morrinho com grama e saiu do outro lado sem cair. Ficou todo satisfeito e quis repetir a façanha. E depois passou de novo e ficou fazendo isso por vários minutos mostrando um sorriso enorme cada vez que conseguia subir e descer. Umas duas semanas antes minha esposa tinha contado que ele tinha feito algo parecido quando descobriu que conseguia descer um pequeno degrau entre a cozinha e a lavanderia. Ficou indo e voltando, vezes sem conta, durante vários e vários minutos.
Coisa perfeitamente natural no caso de uma criança que está aprendendo tudo e descobrindo o mundo a cada passo que dá.
Eu tinha uns seis ou sete anos de idade quando perdi o medo e aprendi a dar cambalhota. Fiz isso no sofá da sala, que era macio e se caísse não me machucaria. quando ganhei confiança comecei a variar as maneiras que fazia a cambalhota e fiz isso por várias horas. Minha mãe o tempo me mandando ter cuidado. Eu tinha descoberto uma “habilidade incrível”.
Naquela noite, por volta das quatro horas da madrugada, acordei chorando com dores no pescoço, não conseguia mexer a cabeça para lado nenhum. Como na época estava tendo um surto de meningite na cidade, meus pais ficaram preocupados e me levaram para o pronto-socorro. Depois de me examinar e fazer alguns testes para descartar um problema mais grave o médico perguntou se eu tinha feito algum esforço ou movimento diferente no dia anterior. Minha mãe imediatamente lembrou das horas de cambalhotas no sofá. Diagnóstico? Torcicolo. Uma esticada no pescoço e usar um colar cervical por uma semana resolveram o problema.
Parece que faz parte do processo de aprendizagem de uma criança esse comportamento: descoberta, repetição, domínio e evolução. Ou seja, primeiro descobre que o desafio existe, segundo descobre que consegue realizar, terceiro repete até internalizar o processo, por último, aquele conhecimento/habilidade passa a ser base para novos conhecimentos/habilidades.
O problema é quando enrosca em algum desses passos e não vai para frente.
Muitos cristãos “descobrem” coisas na vida cristã e, por algum motivo, travam em algum desses passos. Tornam-se pessoas obcecadas por algum aspecto doutrinário ou prático e tudo na vida acaba se resumindo àquilo.
Conhece a pessoa que não importa o que você fale faz a conversa cair naquele assunto que ela não para de falar?
Ou aquele que acha que todos as pessoas devem fazer determinadas coisas como ele faz porque Deus falou com ele para fazer assim. O que ele não compreendeu é que Deus falou COM ELE e PARA ELE.
Muitas vezes Deus trata uma pessoa e ela, por não compreender o processo, trava em algum ponto. O tratamento de Deus fica travado naquela vida e ela passa a dar trabalho para outros.
Certa vez, em uma igreja que participamos, uma irmã começou a insistir com todos que ela conversava que deviam parar de ver televisão, inclusive devendo tirá-las de suas casas. O pastor dela chamou-a para conversar e perguntou o que motivou aquele súbita “santificação”. Depois de deixar de argumentar ela se abriu com o pastor e contou que era viciada na televisão a ponto de ter problemas de relacionamento com o marido e os filhos e por causa da negligência com a casa. Em um momento de oração ela sentiu-se tocada por Deus e motivou-se a vencer o problema. A solução para ela? Tirar a televisão de casa e focar a atenção em outras atividades. Para ela a televisão era um problema e tirá-la de casa a sua solução. Mas, ela estava extrapolando o trato de Deus com ela para todos os irmãos à sua volta.
Examine-se e veja se você, por acaso, não se “enroscou” em algum parte de um processo qualquer que Deus tenha te colocado. Assuma a sua parte no processo e vá em frente, não fique travado. Aprenda, pratique, domine e use esta nova habilidade/conhecimento para ir adiante.
E lembre-se: se Deus falou com você, é com você que ele está tratando.
Muito gostosa a leitura da história sobre o seu netinho e a sua própria história de criança de 6 anos de idade. Deus vos abençoe grandemente…
Excelente reflexao