Alguns anos depois de parar de me preocupar com o medo da volta iminente de Jesus e com o arrebatamento secreto da igreja já tinha desenvolvido uma saudável visão de que devemos estar sempre prontos para prestarmos contas ao nosso Senhor em qualquer tempo. Quando amamos a Jesus nosso desejo é agradá-lo e viver todos os momentos da vida de acordo com o que Paulo nos ensinou, “tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossences 3:23). Este é o estilo de vida que está sempre pronto para a Sua volta.
Um dia pesquisando alguns livros sobre o Reino de Deus deparei-me com um livro em inglês que me chamou a atenção. Ele falava que o Reino de Deus foi inaugurado com a vinda de Jesus e que estava sendo estabelecido na Terra através da ação abençoadora da presença e da açao da igreja. Ele apresentava um cenário positivo de futuro, com o evangelho conquistando os corações dos homens através da pregação e do exemplo de vida dos seus seguidores. Esse exemplo de vida era uma forma de viver o evangelho e os ensinos de Jesus.
Era um livro de escatologia pós-milenista. Através dele descobri que o que se ensina na maioria das igrejas evangélicas hoje no Brasil é chamado de Dispensacionalismo. É uma variação do pré-milenismo. O pré-milenismo acredita que o Reino de Deus será implantado na Terra somente na segunda vinda de Cristo, quando sua igreja será arrebatada para encontrá-lo nos ares e descer com Ele para inaugurar um reino que durará mil anos e depois disso todos serão julgados, os vivos e os mortos ressuscitados. O Dispensacionalismo acrescentou a esse sistema, a crença em um arrebatamento invisível da igreja, junto com a ressurreição dos justos, seguido de sete anos de muita tribulação, para só então Jesus retornar com os santos glorificados e inaugurar um reino terreno de mil anos, a partir de Jerusalém como capital. O Dispensacionalismo absorveu também a crença, elaborada nos anos de 1600 por um jesuíta, de que o anticristo seria um personagem que apareceria no futuro. Existe também o amilenismo, que se parece com o pré-milenismo na sua concepção pessimista do futuro, mas que crê que o milênio é apenas uma figura de linguagem, não existindo na verdade um reino milenar.
Fiquei pensando como é que doutrinas tão diferentes tinham sido completamente ignoradas por mim durante mais de vinte anos de vida cristã? Uma pessimista, que me leva a ficar olhando para todos os lados procurando sinais e, paranoicamente, tentando viver uma vida que me garanta não ser deixado para trás. Enquanto a outra, otimista, confiante na vitória final do evangelho e no triunfo do Reino de Deus, apesar de todas as dificuldades, lutas, tribulações e resistência do inimigo. Uma que dá tanta ênfase ao anticristo e à besta que parece que quem está amarrado é Jesus, enquanto outra dá ênfase à autoridade de Cristo e ao poder do Evangelho para transformar vidas que, por conseqüência, têm potencial para transformar a sociedade onde vivem, fazendo o Reino de Deus visível na Terra.
Mas, o que tem esses dois sistemas teológicos a ver com nossa vida no dia-a-dia?
Simples. Aquilo que você crê determina a sua atitude e a sua disposição para a ação. Aqueles que acreditam que tudo vai acabar logo e que as coisas vão ficar cada vez mais ruins antes do fim chegar vêem a escalada do mal como algo inevitável, contra a qual não é possível se fazer nada. Aqueles que crêem que o Reino de Deus sairá vencedor, sabe que isso é uma tentativa do inimigo de atrasar a manifestação plena do deste Reino, e que portanto, tem de ser confrontada com o poder de Deus e com a proclamação da Sua Palavra.
Não é apenas a escolha do sistema escatólogico que você crê que pode limitar as decisões que você toma para sua vida. Espero que você não esteja aceitando nenhuma crença que limite a ação de Deus e o coloque escravo de um sistema ou de uma pessoa. Não esqueça: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gálatas 5:1).